terça-feira, 7 de setembro de 2010

Carta sobre um tesouro no mundo


Caríssimo e amado amigo
 
Insondável, esta vida...
Sim, enigmática e misteriosa desde a sua génese. Um verdadeiro milagre que nos transcende, que ultrapassa em beleza inexplicável qualquer outro conceito, que se define como sendo o próprio esplendor em cada pulsar e de cada vez que respiramos. Tu sabes! Foste Tu que a criaste. Não obstante, em tantos momentos, parece que ficamos presos à intensidade da escuridão. A escuridão... apenas, e para mim, a inequívoca ausência de amor, tome ele a forma que tomar. Na minha visão do mundo, é a dolorosa ausência de uma essência que se faz de Ti! Tua...
 
Esta manhã, na lentidão das horas de quem não tem agenda, mantendo-se de costas voltadas para a correria do quotidiano que, de resto, aí vem para se reacender e nos reacender em projectos e compromissos, via o noticiário com o meu filho. O breve testemunho de uma outra criança chegada de um cenário de revolta e com laivos de guerra, depoletou em ambos um abraço imprevisto, coincidente, esboçando uma espécie de telepatia que só explico por via de uma empatia amorosa. "Podia ser eu, mamã" - palavras que ferem, sobretudo pela intensidade da inocência e da sensibilidade de quem ainda não viveu o suficiente; mas mesmo nesta insuficiência de experiências e de vivências, foi-lhe suficiente para constatar que "aquilo" não estava certo... que a guerra magoa e que a ausência de paz e de fraternidade pinta-se de escuro, longe de Ti.
 
Curioso... não temos de torturar a visão, rumo ao televisor, para ver a Tua ausência, pois não? Eu sei. Pode começar no mais intímo de cada um de nós e daqueles que navegam connosco. Mas também sei que esquecemos de procurar, de anunciar e de insistir no que de melhor se faz por aí, em prol da esperança e da existência de um mundo bom e que nos esquecemos de dizer aos nossos filhos, por causa da correria do mundo, que no mapa da vida há tesouros imensos, de gente anónima... tesouros feitos de momentos lindos, mais... de um deslumbramento estondeante em humanidade, porque se fazem de Luz, porque se preenchem de Ti e con'Tigo. Porque, afinal, o amor é-nos acessível e desde a génese que assim Tu o quiseste. O amor brota de Ti e de Ti somos parte. Como um elixir! Aprendamos a amar, em pleno. Digamos às nossas crianças quem são pintores de um mundo mais ao teu jeito. Somos sim,  todos jovens pupilos e possíveis pintores. A diferença está se Te ousamos escutar, amigo e Mestre.
 
É que escutar, já é um passo ...
Love   actually is... all around. Se prestarmos atenção e se abraçarmos (a vida) mais vezes...
 
Na frequência da vida, eu ... na voz inconfundível de Joni Mitchell e com imagens de um belíssimo filme






 
                                                                                                                                                    Post: C.A.

2 comentários:

  1. Oh!!!Nem um único comentário!!! Lá se vai a minha hipótese de tomar um café com um rapaz jovem, solteiro,simpático e sem barriga!hehehehe:)
    Cathy

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  2. Gostei muito deste texto. Achei fantástico a forma como tu, que o escrevestes,transmitiste o olhar ternurento que lanças-te à criança para tentar perceber a dor inocente mas sentida dotada de um sentido de justiça, valorizando-a em vez de a ignorar simplesmente. São tantas as expressões que por vezes carregam no rosto uma cruz de dor inocente que, mesmo parecendo uma realidade distante para nós, ela também nos pertence, e se as olharmos de uma forma apenas banal começamos a esfriar aos poucos e qd nos damos conta já andamos longe dessa luz que vem Dele, como dizes, e que nos faz olhar de uma forma tenurenta e esbuçar um sorriso caridoso de quem tem compaixão, para tentar provocar alguma esperança num rosto perdido.

    Gostei mesmo do texto por isso tive que comentar. E neste fim de dia que chega para completar o ciclo intenso e mais relaxado dia que hoje mais uma vez quis chegar de novo:)este texto tocou-me e quase me fez chorar o que é bom porque é difícil provocar-me isso:)

    Isto porque essa tua forma de olhar pode aplicar-se também à guerra diária de uma pessoa em particular que me esteve sempre perto inevitavelmente e em que a revejo em guerra a vida toda contra ela própria e os outros de uma forma mortífera. Muita gente vive uma outra guerra, a da própria vida, como se fosse condenada a ela, como se fosse impossível levar essa pessoa a outro mundo por um pedaço de tempo porque no fundo, a inocência de não conhecer outra realidade desde sempre fá-la dizer não.Viver assim bloquei-a a inteligência mas não retira o sentido de justiça e por isso, para muitos, apetece gritar "Não é justo!".
    Resta-nos aprender a amar mais, a conquistar essa paz de espírito que vem das entregas diárias que aceitamos como prova de confiança e oferta Dele, e a olhar e agir de formas sensatas e com ternura de modo a não provocar mais a fúria a quem a sente no suor do dia a dia motivado pelo amor e pela necessidade de sustento de um ser que lhe saiu do ventre.

    Apetece dar mais a estas pessoas que também merecem mas que não deixam porque já viveram tanto, mas não o suficiente para perceber que na vida também podem haver cantos onde há paz.
    E fica o sentimento de dor e afecto por alguém que é muito próximo inevitavelmente e, por isso, vontade de evitamento também.

    Virei um bocado o cenário ao contrário, mas podemos todos ser mamãs e papás das pessoas que nos dizem respeito.

    Gosto dessa forma sensível de olhar.

    Um beijinho para ti, sejas quem fores, e nunca deixes de olhar assim, com essa ternura:)que as tuas palavras traduzem;)

    Escrevi bué:p

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